“de madrugada, ainda bem
escuro, levantou-se, saiu e foi a um lugar deserto, e ali orava” (Mc 1:35)
Quem
gosta de estar em um deserto? Acredito que ninguém goste. Mas, o que é um
deserto? Como o próprio nome sugere, trata-se de um lugar onde não há vida,
onde não há nada que, em sã consciência, nos atraia.
É
costume, entre o povo de Deus ouvirmos este tipo de comentário: “ Eu estou
passando por um grande deserto na minha vida”. O que seria este deserto na vida
cristã? São momentos difíceis, onde parece-nos que Deus nos abandonou. Estes
“desertos” são períodos de profundas aflições, tribulações e escasses de ânimo.
Na linguagem dos místicos, noites escuras da alma.
Contudo,
ao invés de fircarmos lamuriando, estes períodos de deserto, a exemplo de
nosso Senhor Jesus, podem ser para nós um tempo frutífero e de comunhão íntima
com o Pai.
Deserto é tempo para o silêncio. Quando aprendemos, em meio a estes
períodos de duras provas, silenciar nossas vozes interiores e exteriores,
conseguimos ouvir a voz de Deus sussurrando no nosso centro, na nossa alma,
onde o Espírito Santo habita. E com isso ganhamos uma compreensão renovada de
quem Deus é: “Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus” (Sl 46:10).
Deserto é tempo para a solitude. Nestes
momentos podemos nos reservar a sós com Deus. Buscando nos esquivar do
falatório e das aglomerações humanas, nos forçamos a abrir mão de nossas fugas
pessoais para que assim possamos ter um encontro com a realidade daquilo que
somos, e não aquilo que fingimos ser. Todas as máscaras que usamos caem. Estes
momentos são terapêuticos, pois, ao mesmo tempo que revelam toda o nosso caos interior,
revelam também que Deus nos ama e nos aceita como somos: com nossos defeitos e
fraquezas.
Deserto é tempo para a oração. São nestes períodos desérticos que
aprendemos a realidade das nossas orações, que mais do que mero ritual é um
encontro pessoal com o Deus que nos ama e que nos sustenta em meio à aridez de
nossas vidas. No deserto aprendemos verdadeiramente a orar: nos momentos
férteis aprendemos a pedir mais, nos desérticos aprendemos a descansar em Deus
e a sermos gratos pelo que já temos.
Quem
gosta de desertos? Ninguém! Porém, eles são extremamente necessários para o
forjar de nosso caráter e para nossa formação espiritual.
Moisés
foi formado no deserto; Davi também. Até Jesus enfrentou seus desertos (Cf. Mt
4:1-11; Mc 1:12,13; Lc 4:1-13).
Por
que com você e comigo seria diferente?
Que
Deus abençoe nossos desertos!
http://vidacontemplativa.wordpress.com/2009/03/27/tempo-de-deserto/